Profissional que vai trabalhar na concorrência só não tem a imagem abalada quando avalia o convite com bom senso e é transparente nas negociações.
O convite é comum, mesmo porque, um segmento, por menor que seja, tem os seus adversários. A transição de uma empresa para outra pode envolver mais questões e exigir mais cuidado do que se possa imaginar.
O primeiro tem a ver com a recepção da proposta. É preciso estar aberto para pelos menos ouvir e entender a novidade, mesmo estando satisfeito com a atual carreira. Essa é a dica da consultora de recursos humanos da Intellijob Marillac de Castro. Mas ela alerta que, se o profissional não gostar da instituição onde há a vaga ou tenha muitas dúvidas, não deve avançar o processo. No caso de seleções confidenciais, o ideal é buscar o máximo de informações sobre o headhunter 1, o segmento da empresa, seu faturamento, enfim, investigar, assim como estão fazendo com o candidato.
Uma vez compreendido o convite, é a hora de avaliá-lo. O primeiro passo é analisar o momento dentro da atual empresa, ver se compensa largar projetos e abrir mão de benefícios. Tentar refletir sobre o nível de satisfação é outra forma de ponderar a troca. Não querer ir trabalhar e pensar no serviço e no chefe aos fins de semana são sinais de insatisfação. Outro método indicado pela consultora é observar como a empresa tratou seus colegas em uma situação de demissão.
O momento da carreira também pode ser determinante. Um profissional estagnado e sem desafios provavelmente deve aceitar a proposta caso ela reverta esse quadro. Mesmo com uma remuneração menor. É o que acredita Robert Half. “Faz sentido ganhar menos e ter uma oportunidade de crescimento maior. É um passo para o lado para depois dar dois para a frente”, defende. Ele completa que, para evitar a frustração, o melhor é não ir pelo dinheiro.
Quando e como contar sobre a saída é a grande dúvida de muitos profissionais. Ser transparente é a melhor e praticamente a única aposta dos especialistas e dos que passaram pela experiência. Ádalo não só abriu o jogo desde o início, como comunicou aos dois diretores envolvidos, o da empresa que estava deixando e o da que estava ingressando. As duas organizações chegaram, inclusive, a conversar sobre o fato. O importante é esperar ter certeza da mudança antes do anúncio de saída, para que não se perca os dois empregos.
Contrapropostas e tentativas de segurar o bom funcionário devem ser esperadas. O essencial é não fazer leilão, pois nunca se sabe se será necessário voltar.
A fase de desligamento também não pode ser feita de qualquer jeito. Em média, esse processo dura 15 dias, período necessário, segundo a também headhunter Marillac, para que toda a documentação seja providenciada e alguém seja treinado para assumir o posto. “O funcionário não pode se mostrar disponível no dia seguinte. Isso mostra descomprometimento. Mas também o contratante não quer nem pode esperar muito”, pondera.
E quanto à instituição que perde o profissional para a concorrência, o conselho da especialista é reconhecer sua parcela de culpa e questionar se há ou se funcionam as políticas de retenção de talentos. Caso contrário, a empresa acaba virando uma mera treinadora de pessoal: os preparara, mas não os mantém. Nesses casos, os balancetes rapidamente avisam, já que são grande os custos de contratação, desligamento, treinamento e retrabalho.
1 Headhunter - Caçadores de talentos
A pedido de um cliente, eles procuram os melhores candidatos para um cargo. Às vezes, para sondar o alvo, se fazem de cliente. Depois, fazem a proposta, falam da vaga, da empresa, do segmento. O convidado deve ficar atento às fraudes. A principal dica é nunca pagar para participar de uma seleção.
Eu fico?
Confira os prós e os contras de trocar o emprego atual por um na concorrência.
Atrativos
Você já conhece o mercado, as estratégias e a dinâmica de trabalho. Vai ser estreante, mas sabe onde está pisando.
Geralmente, é uma proposta melhor, tanto financeiramente quanto com relação às possibilidade de crescimento.
A produtividade aumenta, já que você tem experiência na área. Ou seja, chega dando resultados.
Riscos
Denegrir a imagem, pois há a chance de você lidar com os mesmos clientes. A ética evita esse tipo de problema. Nunca fale mas dos concorrentes.
Não conseguir se desligar da empresa anterior e ficar fazendo comparações. A nova empresa não é filial da antiga. Se você fez a troca, enfrente as conseqüências dessa decisão.
AGNER, Marcelo: Editor. Sem virar a casaca. Matéria de capa do Caderno Trabalho & formação profissional do Jornal Correio Braziliense – Domingo. Data: 6 de dezembro de 2009 – Brasília/DF.