quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cada vez mais o brasiliense abre pequenos negócios na própria casa para ganhar dinheiro sem ser empregado

Para muitos moradores do Distrito Federal, a melhor opção é manter o negócio no quintal de casa. Basta andar pelas ruas das regiões administrativas para se deparar com faixas e placas amarradas nas grades de casas oferecendo serviços variados: costura, salão de beleza, oficina e até mesmo restaurante self-service. Os empreendedores garantem que a iniciativa tem mais pontos positivos que negativos. Mas muitos desses microempresários não têm alvará de funcionamento ou registro para funcionar. Segundo a Agência de Fiscalização do DF (Agefis), a vigilância contra os irregulares é constante. Caso notificado, o responsável pelo estabelecimento tem 30 dias para colocar a situação em dia. A equipe do Correio percorreu algumas regiões administrativas e encontrou casos de sucesso e também de fracasso de pessoas que mantêm o negócio dentro de casa.

CHAVEIRO
Em janeiro de 2006, Gilson Alves de Faria, 46 anos, decidiu largar o emprego de cartazista de supermercado para trabalhar em casa. Construiu, então, um puxadinho no terreno onde mora com a mulher e o filho, em Samamabaia Sul. É no pequeno espaço, em meio a um computador, geladeira e televisão, que Gilson mantém o aparato para fazer chaves e carimbos. Mas a maior demanda do negócio se refere à produção de faixas, cartazes e pintura em muros. Das 8h às 18h, Gilson ou a mulher, Ana Goreth Pereira da Silva, 41 anos, se revezam na venda à espera de clientes que passam pela pacata rua. "O ponto de movimento é fraco. Tem semana que é bom, mas tem semana que não aparece ninguém", reclamou Ana.

Um dos muros da casa chama a atenção de quem passa pela via principal da cidade. Com cores chamativas, Gilson expõe o serviço prestado na pequena venda. A família está sempre reunida. Nos meses mais fracos, Ana ajuda na renda com bicos de manicure ou diarista. "Tá dando para viver", disse. Segundo ela, não vale a pena montar um negócio próprio longe de casa. "Alugar uma lojinha é mais de R$ 1 mil. Aqui, está tudo registrado, pagamos o imposto e nunca tivemos problemas. Ainda sai mais barato", contou. A propaganda dos serviços é feita boca a boca pelos clientes antigos. "Vale a pena. Mesmo sem férias e trabalhando triplicado, estamos em família", disse.

OFICINA
"A nossa oficina é um sonho", disse Zilá Marques de Paula Belmiro, 47 anos. Ela ajuda o marido e primo, Miramar Lucas Belmiro, 50 anos, a cuidar da oficina, localizada embaixo da casa onde moram com uma filha e uma neta. O mecânico aprendeu a realizar o trabalho com o pai, aos 10 anos. Cresceu em oficinais nos quintais de casa. Até que decidiu montar o próprio negócio. Acabou com as sociedades e saiu em busca de um terreno bem localizado. Há sete anos, encontraram o terreno em que vivem hoje. No início, moravam em um barraco premoldado nos fundos da área. "Não tinha divisórias e tomamos vários banhos de chuva. Foi um pouco difícil", lembrou Zilá.

Mas logo conseguiram o primeiro empréstimo para erguer a oficina. Depois, foi a vez de levantar as paredes da casa de quatro quartos bem em cima. "Foi um plano audacioso. Até hoje, não deixamos do jeito que queríamos", disse. Agora, o casal quer comprar um novo aparelho de injeção eletrônica. "Estamos indo devagar." Zilá ajuda nos trabalhos da oficina e ainda consegue manter a família reunida. E garante que se acostumou com os clientes que procuram ajuda às 3h. "Miramar saía cedo e voltava só à noite. Criei as crianças sozinha. Agora, chega alguém aqui e fala: Mira, dá uma mirada no meu carro. E fica tudo bem", contou.

COSTUREIRA
Raimundo Fermino, 26 anos, trabalha como cozinheiro à noite. De dia, ajuda a mulher, Elisângela dos Santos, 27 anos, em casa. Há 12 dias, o jovem casal se mudou para uma sala comercial acoplada a dois quartos, um banheiro, uma cozinha e a uma pequena área de serviço. No pequeno espaço da entrada, funciona o ateliê de costura do casal, onde estão as quatro máquinas de costura, panos espalhados pelo chão e montes de roupas prontas para venda. Elisângela é costureira desde os 14 anos e, há um ano, trabalha em casa. "Já alugamos a casa pensando no nosso negócio. É muito melhor, pois não trabalho para nenhum chefe", avaliou a costureira.

Outra vantagem citada por Elisângela é a de o marido ter tempo disponível para cuidar da casa e resolver outros problemas pessoais. A regra é clara: clientes que chegam ao local não passam da porta do corredor. "Se não tivesse dado certo, já teríamos desistido do negócio". Mas o resultado virou caso de sucesso. "Queremos aumentar o espaço e abrir uma empresa de verdade", sonha Raimundo.


RESTAURAÇÃO DE MÓVEIS
O teto da garagem de Antônio José da Silva Júnior, 35 anos, reproduz a imagem do universo com desenhos de astronautas, planetas e estrelas. Tudo em cor fluorescente. Os desenhos foram pintados pelo antigo inquilino, que havia montado uma lan house no lugar. Há quatro meses, Antônio alugou a casa e transformou a garagem em uma pequena loja de restauração de móveis. Hoje, o local tem cheiro forte e é cheio de armários, mesas e estantes de todos os tamanhos e jeitos. Mas ele trabalha tranquilo, nos fundos da loja, ao som de rap, enquanto a mulher varre o chão e ajuda em alguns detalhes. "Tem mês que ganha, tem mês que não ganha. Mas é melhor que ser empregado de alguém", disse Antônio.

Ele trabalha no ramo há muito tempo. Tinha uma loja em Taguatinga, mas teve problemas com o antigo sócio. Hoje, mantém o serviço em dia sem ajuda. "Com certeza, trabalha mais. Se chega alguém, tem que atender. Mas já tenho clientes fixos", contou. Ele abre a garagem de casa às 8h e fecha às 19h, sem direito a folga no almoço. "Não tem funcionário, nem que pagar transporte e aluguel de loja. Estou satisfeito", comemorou.

SALÃO DE BELEZA
Metade da casa de Lucineide da Silva Oliveira, 26 anos, foi derrubada para dar lugar ao novo empreendimento: o salão de beleza. Ela passou para o quartinho dos fundos com o marido para utilizar o espaço do antigo cômodo e grande parte do quintal para a obra. Apenas uma porta de madeira separa a sala de estar do pequeno salão, concluído há apenas três meses. A antiga dona de casa sempre teve vontade de trabalhar na área, tanto que investiu em um curso de cabeleireira em 2004. Mas nunca teve coragem, até ser incentivada pelas cinco vizinhas que também mantêm negócio no quintal de casa. "É o melhor investimento que se pode fazer", garantiu.

Neide abre às portas do salão às 9h e fecha às 18h. À noite, em vez de trabalhar, estuda. Ela frequenta as aulas do Sesc, onde conclui o ensino médio. "Trabalho em casa e ainda conto com a ajuda de uma funcionária. Assim, consigo trabalhar, estudar e ainda resolver problemas em casa", contou. A obra que modificou a casa própria de Neide dá retorno e incrementa a renda do marido, que trabalha em uma agência de turismo durante todo o dia. "Vi experiências dando certo. E a minha deu também", completou.

RESTAURANTE
Maria Christina Costa, dona do restaurante O Convento, garante: toda mineira tem um pé na gastronomia. Foi com este pensamento que Maria se uniu a uma sócia para abrir um restaurante no quintal de casa, no Lago Sul. Os clientes se sentiam confortáveis em um local exclusivo e com boa decoração. "Eu estava sempre por perto, era fácil de coordenar e, ao mesmo tempo, dar uma assistência melhor ao cliente", contou Maria. Sete anos depois da inauguração, em 1994, alguns vizinhos passaram a reclamar de barulho e da rua cheia de carros. "Alguns achavam bom porque dava segurança e vida à rua. Outros não, achavam que podia desvalorizar a casa", lembrou.

Maria procurou outro lugar, longe de área residencial, com um jardim e um bom estacionamento. "Quando mudei, tive a maior alegria em saber que ninguém ia reclamar do barulho. É só boa música. A distância da área residencial me deixou aliviada", confessou. O restaurante se tornou mais acessível à comunidade, mas continua com o mesmo charme e clima aconchegante de antes. Ela ainda aproveita o local para expor as obras de arte de sua autoria. A dedicação continua em horário integral. "É um prazer. Antes, tinha vantagens e desvantagens. Agora, é só o lado positivo", garantiu.


Tira dúvidas
O que é o MEI – Microempreendedor Individual?
O MEI é a nova forma de tributação e legalização do microempreendedor criada em dezembro de 2008 pela
Lei Complementar nº 128/08. A lei entrou em vigor em julho deste ano.

Como será o registro do MEI?
O microempreendedor poderá legalizar o seu negócio sem taxas e pagamento de honorários aos contadores para abrir a empresa ou para fazer a primeira declaração anual.

Quem é o microempreendedor?
Qualquer pessoa que tenha
um comércio com até um funcionário que receba um salário que não ultrapasse o piso da categoria pode ser considerada um microempreendedor.
O faturamento é o primeiro fator limitante para o registro, já que a assinatura só é aceita para empreendedores com faturamento de até 36 mil reais anuais, o que dá uma média de 3 mil reais por mês.

O que acontece se a empresa crescer e o lucro do empreendimento superar os R$ 36 mil anuais?
O microempreendedor perde as vantagens do MEI. Mas o dono do negócio estará automaticamente enquadrato na tributação do imples Nacional.

Por Juliana Boechat
Publicação: 04/10/2009 08:23 Atualização: 04/10/2009 08:26
Disponível: http://www.correiobraziliense.com.br
Acesso em 04 de outubro de 2009 às 11:56h.

Um comentário:

  1. isso é verdade!!
    tbm ja pensei nisso! foi bomsaber onde tirar duvidas!! obrigada!

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